Quando pensamos em Amsterdã, é fácil lembrar dos canais, das bicicletas e da arte. Mas a cidade também tem uma longa história com o jazz — e um apreço crescente por bons vinhos. Um dos encontros mais emblemáticos desses dois mundos aconteceu na década de 1960, dentro de uma das salas de concerto mais prestigiadas da Europa: o Concertgebouw.
Naquela época, o jazz americano estava conquistando a Europa, e a “Primeira Dama da Canção”, Ella Fitzgerald, já era uma lenda. Em 1960, ela se apresentou no Concertgebouw acompanhada por ninguém menos que Oscar Peterson ao piano. A casa estava lotada, e o público — uma mistura elegante de amantes da música clássica e aficionados por jazz — assistiu em silêncio a cada scat, a cada improviso brilhante.
Nos bastidores, Ella era conhecida por seu gosto refinado. Embora fosse mais reservada com suas preferências, os organizadores do evento ofereceram uma recepção após o concerto, com queijos holandeses e uma seleção de vinhos franceses e alemães — especialmente Rieslings da região do Mosel, muito apreciados por músicos da época.
Esse momento marcou o início de uma tradição informal: nos anos seguintes, os clubes de jazz de Amsterdã passaram a oferecer vinhos mais sofisticados ao lado da tradicional cerveja. Locais como o Bimhuis, fundado em 1974, tornaram-se pontos de encontro não só para música de vanguarda, mas também para experiências sensoriais completas — onde um bom jazz é sempre melhor com uma taça na mão.
Hoje, festivais como o North Sea Jazz Festival, embora sediado em Roterdã desde 2006, continuam esse legado, com bares temáticos e vinhos selecionados acompanhando os shows. A Holanda mostra que, mesmo sem vinhedos próprios, sabe muito bem como harmonizar jazz e vinho com elegância.
Harmonização sugerida: Escute a gravação de Ella Fitzgerald em Amsterdã, 1960, com uma taça de Riesling seco. Se fechar os olhos, talvez ouça o som do piano de Oscar Peterson ecoando pelos corredores do Concertgebouw.